Você já imaginou como seria estar cercado por crocodilos gigantes, famintos e furiosos? Pois foi exatamente isso que aconteceu com cerca de 1000 soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, na ilha Ramree, na antiga Birmânia (atual Myanmar). Essa é a história da Batalha da Ilha Ramree, considerada pelo Guinness Book como o pior desastre de crocodilo do mundo.A ilha Ramree era um ponto estratégico para os britânicos, que queriam construir campos de aviação para apoiar o avanço do seu exército na região. Por isso, em janeiro de 1945, eles lançaram uma operação para invadir a ilha e expulsar os japoneses que a ocupavam. A força de invasão era composta pela 26ª Divisão de Infantaria Indiana, comandada pelo Major-General Henry Chambers, e por um destacamento da Marinha Real da 3ª Brigada de Comando.
Os japoneses, por sua vez, eram liderados pelo Coronel Kanichi Nagazawa, que comandava o II Batalhão, 121º Regimento de Infantaria, parte da 54ª Divisão. Eles tinham cerca de 1500 homens, armados com artilharia e engenharia. Eles esperavam resistir aos britânicos até a chegada de reforços, mas logo perceberam que estavam em desvantagem.
Os britânicos desembarcaram na ilha em 21 de janeiro, após um bombardeio naval e aéreo. Eles avançaram rapidamente, tomando o porto de Kyaukpyu e a cidade de Ramree. Os japoneses recuaram para o interior da ilha, onde esperavam encontrar uma rota de fuga para o continente. Mas o que eles encontraram foi um pesadelo.
A ilha Ramree era coberta por uma densa floresta de manguezais, que abrigava milhares de crocodilos de água salgada, os maiores e mais agressivos do mundo. Esses répteis podiam medir até 6 metros de comprimento e pesar mais de uma tonelada. Eles se alimentavam de peixes, aves, macacos e, ocasionalmente, de humanos.
Os japoneses entraram no pântano, sem saber do perigo que os espreitava. Eles foram seguidos pelos britânicos, que cercaram a área e impediram qualquer tentativa de fuga. Os britânicos também usaram alto-falantes para transmitir mensagens psicológicas, dizendo aos japoneses que se rendessem ou morressem.
Foi então que começou o banquete dos crocodilos. Eles atacaram os japoneses sem piedade, arrastando-os para as águas turvas e devorando-os vivos.
“Mais de 1000 soldados da guarnição japonesa recuaram para os manguezais infestados de crocodilos. Entramos com barcos e intérpretes usando alto-falantes pedindo-lhes que saíssem. Nem um só fez. Crocodilos de água salgada, alguns deles com mais de 6 metros de comprimento, frequentavam essas águas. Não é difícil imaginar o que aconteceu aos japoneses que se refugiaram nos manguezais! ”
— J. F. R. Jacob
Os gritos dos soldados ecoavam pelo pântano, atraindo mais crocodilos e também outros animais selvagens, como tigres, cobras e escorpiões. Os japoneses tentavam se defender com suas baionetas, mas eram inúteis contra as mandíbulas poderosas dos crocodilos. Alguns tentavam subir nas árvores, mas eram derrubados pelos galhos quebradiços ou pelos tiros dos britânicos. Outros se afogavam na lama ou morriam de fome, sede, doenças ou ferimentos.
A carnificina durou seis semanas, até que os britânicos decidiram encerrar o cerco e avançar para o continente. Dos 1000 japoneses que entraram no pântano, apenas 20 sobreviveram. Eles foram capturados pelos britânicos, que ficaram horrorizados com o que viram. Os sobreviventes estavam em péssimo estado, cobertos de sangue, lama e feridas. Eles contaram aos seus captores sobre o inferno que viveram, e como preferiam ter morrido lutando. O número exato de soldados que morreram devorados pelos crocodilos é incerto, pois ninguém saber quantos morreram por desidratação, doença ou fome.
“Aquela noite (de 19 de fevereiro de 1945) foi a mais horrível que qualquer membro das tripulações da M. L. (lancha a motor) já experimentou. Os disparos de rifle espalhados no pântano escuro como breu perfurados pelos gritos de homens feridos esmagados nas mandíbulas de enormes répteis, e o som turvo e preocupante de crocodilos girando criaram uma cacofonia do inferno que raramente foi duplicada na terra. Ao amanhecer, os abutres chegaram para limpar o que os crocodilos haviam deixado […]. Dos cerca de 1000 soldados japoneses que entraram nos pântanos de Ramree, apenas cerca de 20 foram encontrados vivos ”
— Bruce Wright
A Batalha da Ilha Ramree foi uma das mais sangrentas e cruéis da Segunda Guerra Mundial, e também uma das mais esquecidas. Ela mostrou o quão impiedosa pode ser a natureza, e como o ser humano pode ser reduzido a uma presa fácil. Ela também levantou questões sobre a ética e a moralidade da guerra, e se os britânicos foram justos ou cruéis ao deixar os japoneses à mercê dos crocodilos, inclusive os impedindo de se abrigar contra as feras.
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